2ª Série - Itinerários das ÁREAS
Ciências Humanas e Sociais Aplicadas
A BNCC da área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas propõe a ampliação e aprofundamento das aprendizagens, orientada para uma formação ética, com destaques para os ideais de justiça, solidariedade, autonomia, combate aos preconceitos de qualquer natureza, compreensão e reconhecimento das diferenças.
Nesse sentido, é fundamental que os estudantes explorem conhecimentos próprios da Geografia, da História, da Filosofia e da Sociologia, perpassando por seus conceitos estruturantes: temporalidade, espacialidade, ambiente, diversidade, modos de organização da sociedade, relações de produção/trabalho/poder.
Para o desenvolvimento de competências e habilidades, a pesquisa e investigação científicas ganham espaço relevante, tendo como sustentação a prática da dúvida sistemática e, consequentemente, o incentivo ao protagonismo juvenil, com a mobilização de diferentes linguagens, trabalhos de campo, registro, capacidade de estabelecer diálogos, formulação e resolução de problemas.
No Ensino Médio, a área de Ciências Humanas possui o compromisso de ressignificar conceitos, sempre pautados em princípios e valores que fujam de definições reducionistas e absolutas, favorecendo a compreensão de nossas identidades.
Uma análise da relação entre indivíduo e sociedade, abordando de consequência da Rev. Francesa e da Rev. Industrial ao controle e impacto das redes sociais.
(2 aulas/semana)
A Sociologia surgiu como uma resposta a um período de intensas transformações sociais decorrentes da Revolução Francesa e da Revolução Industrial. Muito mais do que mudanças meramente tecnológicas, tais revoluções alteraram significativamente a relação entre indivíduo e sociedade em um período em que não existia uma ciência para entender, mensurar ou mesmo prever as relações causais entre estes.
Por mais complexa e diversa que seja a sociedade brasileira, o objetivo geral que levou à criação da Sociologia enquanto ciência persiste e é um dos eixos norteadores deste curso, em conjunto com o respeito aos princípios básicos da Declaração Universal dos Direitos Humanos e com a formação indivíduos críticos e ativos politicamente, o que pretendemos formar a partir da aplicação de técnicas e análises que aguçam a percepção a respeito da relação causal entre indivíduo e sociedade.
Objetivos
- Desnaturalizar preconceitos sociais ao mesmo tempo que se difunde uma perspectiva calcada nos princípios da Declaração Universal dos Direitos Humanos.
- Permitir que os educandos consigam utilizar os conceitos, teorias e métodos sociológicos na compreensão de si mesmos e da realidade que os cercam.
- Apresentar diferentes matrizes culturais e teóricas a fim de problematizar os padrões culturais que comumente é tido como “normais” ou, quando não raro, enquanto “naturais ao ser humano”.
- Incentivar uma participação crítica e autônoma na elaboração de soluções para diferentes problemas sociais brasileiros, como a desigualdade social exacerbada e as violências pungentes em nosso meio social (sejam estas estruturais ou não).
Conteúdo Programático:
- Origem da Sociologia: impactos e transformações geradas pela Revolução Francesa e pela Revolução Industrial;
- Positivismo e a base da sociologia de Émile Durkheim;
- Métodos de pesquisa nas Ciências Sociais;
- Sociologia de Karl Marx, Émile Durkheim e Max Weber;
- Sociologia Urbana;
- Noção sociológica de família, parentesco e uma reflexão sobre as consequências de modelos familiares patriarcais;
- Escola: funções sociais, possibilidades e limites da instituição escolar;
- Tipos de violência e terrorismo (estatal e não estatal);
- Vigiar e Punir: Michel Foucault;
- Necropolítica;
- Escola de Frankfurt: indústria cultural, cultura de massa e alienação;
- Origem das Ciências Sociais no Brasil;
- Darcy Ribeiro: matrizes étnicas;
- Caio Prado Júnior: do processo de “colonização brasileira” à formação de uma elite com interesses não nacionais;
- Sérgio Buarque de Holanda: como compreender as violências do Brasil de 2020 a partir do conceito de “homem cordial”.
Cultura, neocolonialismo e transformações sociais
(1 aula/semana)
O surgimento do termo América Latina, originalmente cunhado por intelectuais franceses, disseminou no imaginário social a imagem de uma região relativamente uniforme, marcada por um atraso industrial, uma forte presença indígena e de uma natureza selvagens pouco habitada. Esta aparência pejorativa, fortemente vinculada ao processo colonial europeu de estigmatização dos povos das Américas reproduz preconceitos e opõe o “tradicional” ao “moderno”, em que as culturas e práticas locais são entendidas como “tradicionais” ou primitivas e as desenvolvidas no centro do capitalismo, vistas como “modernas”, sendo estas compreendidas como avançadas.
Este discurso silencia a história diversa e plural dos povos na América Latina, impondo um desconhecimento sobre as vivências e resistências ocorridas nesta região. Tendo isto em vista, este curso pretende resgatar elementos históricos e políticos ocorridos na América Latina, desde as lutas de independência (como a Revolução Haitiana, realizada por ex- excravos negros), passando pelos projetos e lutas republicanas que apontavam diferentes horizontes políticos para América Latina, pelas lutas anti-imperialistas do século XX, até as formas contemporâneas de organização social que levam em consideração as características plurinacionais da maior parte dos países e que valorizam a diversidade cultural e política dos diferentes povos. O curso abordará também os diferentes interesses políticos e econômicos na região, que buscam se aproveitar seja de suas características climático-ambientais, seus recursos naturais, ou ainda por conta dos conhecimentos tradicionais das populações locais, que mobilizam Estados e empresas para a exploração da região. Desta forma, este curso tem por objetivo trazer a tona os processos que formaram este território e ressaltar suas contradições e resistências.
Conteúdo Programático:
- América Latina: surgimento do conceito e apropriações críticas;
- Estrutura produtiva e inserção da região na lógica de produção capitalista;
- Características sócio-culturais;
- Lutas anti-imperialistas ao longo do século XX;
- Projetos de integração regional e resistências locais.
Uma análise econômica-social do mundo moderno
(1 aula/semana)
Vivemos em um mundo muito dinâmico no qual as relações econômicas estão presentes em vários momentos da vida. Da ida ao mercado à possibilidade de estudar, vivemos imersos em constantes relações de trocas que, de tão comuns e corriqueiras, parecem que sempre existiram e sempre foram assim (apenas com pequenas mudanças ao longo do tempo). Por estarmos inseridos dentro de um cotidiano cheio de atribuições, com muitas metas e objetivos a serem cumpridos, fica difícil fazer uma análise mais distanciada da marcha que o mundo segue.
Acabamos por nos valer da experiência e de discursos que também estão inseridos dentro desse dinamismo para conseguir caminhar para algum ponto, e por isso mesmo tudo acontece como se fosse “natural”. Contudo essas relações de troca, baseadas na circulação da mercadoria como ponto privilegiado, nem sempre foram da forma que ocorrem hoje e nem sempre existiram da forma que conhecemos; mais do que isso, nem sempre esteve presente nos quatro cantos do mundo, inclusive, para muitos autores essa relação é historicamente datada, possuindo assim um movimento de formação e de desenvolvimento. Esse será justamente o foco do nosso curso: o processo de desenvolvimento e expansão das relações sociais capitalistas de produção.
O objetivo do curso é analisar o processo de formação e desenvolvimento do sistema capitalista de produção a partir de suas determinações histórico-geográficas. Estudaremos sua lógica de reprodução assim como suas consequências socioespaciais: os colonialismos, as revoluções industriais e tecnológicas, dando especial ênfase na utilização de recursos naturais, e a financeirização do mundo. Para isso utilizaremos textos que abordaram os temas presentes no curso, bem como buscaremos também o uso de recursos audiovisuais como vídeos, músicas e podcasts.
Conteúdo Programático:
- Formação do capitalismo e as grandes navegações;
- Capitalismo industrial e formação dos monopólios;
- Terceira revolução industrial e a financeirização dos mercados;
- Quarta revolução industrial e papel da tecnologia no cotidiano.
Arquitetura da desigualdade – Um estudo sobre as assimetrias e desigualdades raciais e espaciais na cidade e interior de São Paulo
(2 aulas/semana)
O curso parte da ambiguidade da noção de arquitetura. De um lado, arquitetura como expressão do concreto, da moradia, da construção e construções que se espalham pelos espaços rurais e urbanos. De outro, a ideia de um ethos, de um modo de vida, aquele que remete a arquitetar. Em relação, essas dimensões revelam um projeto de desigualdades que, mesmo dissimulado, constitui-se elemento central da sociedade e história brasileiras.
Integrado ao sistema mundial de forma subalterna e dependente, o Brasil deixa de ser Colônia no século XIX, passando de Monarquia à República sem modificar estruturas sociais e de trabalho que, quando investigadas para além do senso comum, revelam toda uma ordem de assimetrias raciais, de precariedades sociais, de problemas de moradia, da ocupação do espaço público, do direito à cidade.
Essas reflexões mostram-se fundamentais para a compreensão das desigualdades brutais do país, da capital e do estado de São Paulo e, a partir delas, propor ações de intervenção social que caminhem no sentido da defesa da cidadania e dos direitos humanos. A materialidade do curso parte do estudo da fazenda Ibicaba, localizada no interior do estado, entre Cordeirópolis/Limeira que recebeu, de maneira pioneira, grupo de imigrantes europeus no contexto dos debates sobre a transição do trabalho escravo para o livre. Aos/as visitantes colocam-se diversos questionamentos: que modelo de Estado de desenhou a partir da Independência.
Quais foram os/as os grupos reconhecidos como portadores de direitos? Quais seriam esses direitos? O que seria cidadania naquela conjuntura? O que seria ser moderno? Civilizado? Esse processo ocorrerá percorrendo preferencialmente os espaços da Casa Grande, Senzala e vila dos imigrantes. As elites controlaram e imprimiram às instituições brasileiras grande resistência à democratização dos direitos e apesar do discurso liberal, a maior parte da população (sabidamente negros e negras), foram marginalizados sob a égide de propostas “modernizadoras e civilizatórias” pautadas na exclusão e branqueamento do país.
Em diálogo com a capital e com essas reflexões, nos voltamos à arquitetura do café que se espalhou pelo centro histórico, celebrando uma modernidade e europeização, através de construções. Em seguida, alunos/as partem para o estudo de diferentes espaços periféricos e/ou centrais para pensar como essa ordenação da cidade revelou e revela a ordem de desigualdades do Brasil. É imperativo dessa proposta para o 2 ano, o contato com autores/as de referência das Ciências Humanas, pensadores/as e pesquisadores/as que se debruçaram sobre temas como modernização e atraso, patriarcalismo, público e privado, trabalho e a leitura de fontes primárias (textos, pinturas, fotografias) e clássicos do pensamento e historiografia brasileira, será realizado através de oficinas de leitura durante todo o trabalho.
Conteúdo Programático:
- Monarquia e República, Constituição de 1824;
- Conceitos de golpe e revolução, movimentos sociais e políticos do Brasil Independente;
- Liberalismo, liberalismo “tropical”, modernidade, civilização, atraso;
- Escravidão, imigração, racismo, xenofobia;
- Arquitetura em sua duplicidade: oikos (moradia) e ethos (modo de vida).
- Fontes primárias e textos historiográficos: significados, diferenças e possibilidades;
- Pinturas, desenhos e fotografias: diálogos entre passado e presente e a educação do olhar;
- Fonte primária e texto científico: metodologias e aprendizagens nas ciências humanas;
- Direitos indígenas;
- Aplicação do saber: conhecimento e transformação social.